Atenção

Fechar

Biblioteca

Metais & Ligas | Alumínio | Informações Técnicas

Ligas Al-Cu

As ligas do sistema Al-Cu, conhecidas como ligas da série 2XXX (trabalhadas) e 2XX.X (fundidas) na classificação da Aluminum Association, são as ligas de alumínio de desenvolvimento mais antigo, sendo que o seu surgimento data do início do século XX, quando Alfred Wilm, na Alemanha, descobriu o fenômeno de endurecimento por precipitação [4]. Essas ligas até hoje são conhecidas como duralumínio, e entre essas ligas a 2017 é a mais antiga e também a mais conhecida. É uma liga que contém 4 % de cobre, 0,5 % de magnésio e 0,7 % de manganês, nas quais a simples introdução desses elementos de liga já eleva a resistência à tração de 9,1 kg/mm2 (alumínio comercialmente puro) para 18,2 kg/mm2. O tratamento térmico de envelhecimento (endurecimento por precipitação) por tempo e temperatura controlados ainda permite aumentar ainda mais a resistência à tração, para cerca de 43 kg/mm2 [1].

Esse grupo de ligas Al-Cu pode ainda ser subdividido em dois grupos principais: as ligas Al-Cu com teores de magnésio relativamente baixos, como a 2017 mencionada e outras como a 2025 e a 2219, e as ligas Al-Cu com tores de magnésio relativamente altos (também denominadas Al-Cu-Mg), superiores a 1%, como a 2024 (1,5 % de magnésio) e a 2618 (1,6 % de Mg). A principal diferença entre esses dois subgrupos é que nas ligas Al-Cu, mais antigas, só contribuem para o endurecimento por precipitação as fases precursoras da fase q (Al2Cu): q'' e q', ao passo que nas ligas Al-Cu-Mg é igualmente importante a contribuição da fase S', precursora da fase S (Al2CuMg) [3]. Se o teor de silício for relativamente alto, também poderá ser encontrada nestas ligas a fase quaternária Q (Al4Cu2Mg8Si7).--> GP --> q'' --> q' --> q (Al2Cu) GP --> S' --> S (Al2CuMg)

As ligas Al-Cu(-Mg) podem apresentar diferentes tipos de elementos de liga, adicionados com diversas finalidades, os quais podem levar à formação de diversas fases diferentes. A liga 2024, por exemplo, possui manganês em teores relativamente altos, que causa a formação da fase Al12(Fe,Mn)3Si, presente também em outras ligas, que sob a forma de partículas dispersóides retardam os processos de recristalização e crescimento de grão. A liga 2011, por exemplo, não apresenta magnésio e manganês em teores elevados, mas sim ferro e silício, havendo a formação da fase Al7CuFe2 insolúvel [3].

De um modo geral as ligas Al-Cu(-Mg) apresentam elevada resistência mecânica após tratamento térmico de endurecimento por precipitação, entretanto, apesar dessa vantagem, apresentam algumas desvantagens quando comparadas com outros tipos de ligas de alumínio, que vão desde a resistência à corrosão relativamente baixa e a conformabilidade limitada (são pouco adequadas a processos com elevada deformação, como a extrusão, por exemplo) até a soldabilidade igualmente restrita (em geral são soldadas somente por processos de resistência elétrica) [1]. Os valores mais elevados de dureza são obtidos para teores de cobre da ordem de 4 a 6 %, dependendo da influência de outros elementos de liga presentes [3].

Como ligas que apresentam elevados teores de soluto, as ligas Al-Cu(-Mg) apresentam considerável endurecimento quando mantidas por tempos relativamente longos à temperatura ambiente. É o chamado envelhecimento natural, que recebe essa denominação para distinguí-lo do envelhecimento artificial obtido através de tratamento térmico em fornos. Esse efeito ocorre devido à formação das chamadas zonas de Guinier Preston (GP), em forma de discos formados por um arranjo de átomos de cobre e alumínio nas regiões enriquecidas em cobre, e que já são responsáveis por um razoável ganho de dureza no material mantido à temperatura ambiente. Esse tipo de pré-precipitado (zonas GP) também se forma no início do envelhecimento artificial e essas zonas GP são consideradas precursores dos precipitados intermediários metaestáveis q'' e q'. O precipitado q'', que se forma após algumas horas de envelhecimento (3 ou 4 horas a 190 ºC, quando as zonas GP desaparecem), é coerente com a matriz e possui formas de plaqueta, assim como o precipitado q', que se forma algum tempo depois, mas coexiste com o precipitado q'' durante um certo intervalo de tempo, o qual corresponde à dureza mais elevada que pode ser obtida para as ligas Al-Cu(-Mg). A continuação to tratamento térmico de envelhecimento leva à formação do precipitado de equilíbrio q, cuja composição química corresponde exatamente à estequiometria Al2Cu. Este é o chamado precipitado de equilíbrio termodinâmico, uma vez que o prosseguimento do envelhecimento não muda suas características, com exceção do tamanho dessas partículas, que tende a crescer. A formação desse precipitado de equilíbrio também corresponde ao chamado superenvelhecimento da liga Al-Cu(-Mg), que é caracterizado por uma acentuada queda de dureza, quando comparado com o intervalo de coexistência das fases q'' e q' [3].

Sendo assim, a seqüência de precipitação nas ligas Al-Cu é dada por:

SS

onde: SS = solução sólida supersaturada, GP = zonas de Guinier Preston.

Obs: alguns autores mais antigos podem se referir aos precipitados q''como zonas GP2, e assim considerarem as zonas GP iniciais como zonas GP1, mas essa denominação está em desuso, uma vez que estudos mais recentes demonstram que os precipitados q''são efetivamente precipitados com estrutura cristalina e outras características bem definidas, que os diferenciam das zonas GP.

As ligas Al-Cu-Mg, apresentam duas seqüências de precipitação praticamente simultâneas: além da seqüência apresentada anteriormente, a seqüência mostrada a seguir, relacionada com a presença do magnésio em teores mais elevados [3]:

SS -->

A presença do magnésio acelera e intensifica o endurecimento durante o envelhecimento natural, o que é atribuído ao resultado das complexas interações entre lacunas e dois tipos de átomos de solutos diferentes, com a formação de pares de átomos de magnésio e cobre afetando o movimento das discordâncias. Apesar de também serem conhecidas há muito tempo e produzidas em larga escala os detalhes do processo de precipitação são menos conhecidos no caso das ligas Al-Cu-Mg. Contudo, sabe-se que a fase intermediária endurecedora S' é coerente, ao contrário da fase de equilíbrio S. Pequenas adições de magnésio já são suficientes para proporcionar um considerável endurecimento às ligas Al-Cu [3].

As tabelas apresentadas a seguir mostram a composição química nominal e valores típicos de propriedades mecânicas que podem ser obtidos para as ligas Al-Cu(-Mg) trabalhadas mecanicamente e fundidas:

Tabela 2.1: Composição química de ligas Al-Cu trabalhadas (% em massa)

Liga Cobre Magnésio Silício Manganês Outros Alumínio
2011 5,5 - - - 0,40: Bi, Pb e Fe Restante
2014 4,4 0,5 0,8 0,8 - Restante
2017 4,0 0,6 0,5 0,7 - Restante
2117 2,6 0,35 - - - Restante
2218 4,0 1,5 - - 2,0 Ni Restante
2618 2,3 1,6 0,18 - 1,1 Fe; 1,0 Ni; 0,07 Ti Restante
2219 6,3 - - 0,30 0,10 V; 0,18 Zr; 0,06 Ti Restante
2024 4,4 1,5 - 0,6 - Restante
2025 4,4 - 0,8 0,8 - Restante
2036 2,6 0,45 - 0,25 - Restante

Tabela 2.2: Composição química de ligas Al-Cu fundidas (% em massa)

Liga Cobre Magnésio Silício Ferro Zinco Outros Alumínio
201.0 4,6 0,35 0,10
máx
0,15
máx
- 0,7 Ag; 0,35 Mn Restante
202.0 4,6 0,35 0,10
máx
0,15
máx
- 0,7 Ag; 0,4 Cr; 0,5 Mn Restante
203.0 5,0 0,10
máx
0,30
máx
0,50
máx
- 1,5 Ni; 0,25 Mn; 0,25 Sb; 0,25 Co; 0,20 Zr; 0,20 Ti  Restante
204.0 4,6 0,25 0,20
máx
0,35
máx
- - Restante
206.0 4,6 0,25 0,10
máx
0,15
máx
- 0,35 Mn Restante
208.0 4,0 0,10
máx
3,0 1,2
máx
1,0
máx
- Restante
213.0 7,0 0,10
máx
2,0 1,2
máx
2,5
máx
- Restante
222.0 10,0 0,25 2,0
máx
1,5
máx
0,8
máx
- Restante
224.0 5,0 - 0,06
máx
0,10
máx
- 0,35 Mn; 0,1 V; 0,2 Zr Restante
238.0 10,0 0,25 4,0 1,5
máx
1,5
máx
- Restante
240.0 8,0 6,0 0,50 0,50 - 0,5 Mn; 0,5 Ni Restante
242.0 4,0 1,5 0,7
máx
1,0
máx
0,35
máx
2,0 Ni Restante
243.0 4,0 2,0 0,35
máx
0,40
máx
- 0,3 Mn; 2,1 Ni; 0,3 Cr Restante
249.0 4,2 0,40 0,05
máx
0,10
máx
3,0 0,4 Mn Restante
295.0 4,5 - 1,1 1,0
máx
- - Restante
296.0 4,5 - 2,5 1,2
máx
0,50
máx
- Restante

Tabela 2.3: Propriedades mecânicas de ligas Al-Cu trabalhadas

Liga Limite de resistência (MPa) Limite de escoamento (MPa) Alongamento (%) em 50mm Dureza Brinell Limite de resistência à fadiga (MPa)
2011 (T8) 405 310 12 100 125
2014 (T6) 485 415 12 135 125
2017 (T4) 425 275 22 105 125
2117 (T4) 300 165 27 70 95
2218 (T72) 330 255 11 95 -
2618 (T61) 435 370 10 - 130
2219 (T87) 475 395 10 130 105
2024 (T861) 515 490 6 135 125
2025 (T6) 400 255 19 110 125
2036 (T4) 340 195 24 - -

Tabela 2.4: Propriedades mecânicas de ligas Al-Cu fundidas

Liga Limite de resistência (MPa) Limite de escoamento (MPa) Alongamento (%) em 50mm Dureza Brinell
201.0 (T6) 448 379 8,0 130
208.0 (F) 145 97 2,5 55
213.0 (F) 165 103 1,5 70
222.0 (T62) 421 331 4,0 115
224.0 (T571) 380 276 10,0 123
240.0 (F) 235 200 1,0 90
242.0 (T571) 221 207 0,5 85
295.0 (T6) 250 165 5,0 75

« Voltar